DESALENTO

Noites de trabalho, pressão, manhãs confusas, antecedem noites em branco atestas de reflexões. Careço o desabafo de desilusões nos dias findos.

Nesta quadra o Romeu já não é Romeu, o Hamlet pelas suas características intrínsecas é e será o Hamlet, Sua Excelência terá sido impróprio. A estas personagens juntam-se as que ainda não têm referência literária atribuída. A todos recordo que não travo nem guerras, nem batalhas, apenas ensaio, testo e aperfeiçoo, a cada dia.

Cabe-me por opção o papel de escravo, dependente do mestre, sou livre nos meus sonhos, navego entre imagens e ilusões criativas de um mundo virtual, que só a mim pertence.

Entre os afazeres diários e os gestos a que todos já se habituaram, vivo num mundo meu, cujas incursões em forma de trejeitos belicosos não são admitidas.

Hoje chove nos meus ombros o desconforto da amizade, o desconforto por ter comparecido a uma festa sem ser convidada, o desconforto de ter invadido vidas alheias sem a sua permissão. Alistei-me num navio sem rumo, despertando o desalento pela minha elementar presença.

Personagens, tomei-vos por amigos.

(…. a mim coube-me Marguerite Duras).